tag:blogger.com,1999:blog-52750224765167137372024-03-14T01:39:25.038-07:00Alta Sociedade Carioca, livro de Marcio GColetânea de crônicas inspiradas nos salões e personagens do society do Rio de Janeiro. De repente, você se vê no centro da trama, mas não se afobe: é mera coincidência. Há tipos muito comuns na "Cidade Maravilhosa"... Aqui no blog, só serão publicadas 10 crônicas das 100 que virão no livro impresso. E-mail: altasociedadecarioca@gmail.comMarcio.Ghttp://www.blogger.com/profile/11597647022897515011noreply@blogger.comBlogger7125tag:blogger.com,1999:blog-5275022476516713737.post-69153294643277528932017-10-04T08:27:00.004-07:002020-01-26T10:05:39.466-08:00A pintosa do terço<div class="MsoNormal">
Pôs na cabeça que entraria para a turma do terço da Martinha,
mas é homem que gosta de homem. Até se casou com outra Jacira, formando uma
dupla de passivonas, mas em sua cabeça, para ser aceito pela "melhor sociedade
carioca", não basta escrever em revista, tem de frequentar a casa da Martinha, na
Zona Sul. </div>
<div class="MsoNormal">
Como estratégia, até tentou conquistar a mãe da Martinha, mas, o que
parece, não conseguiu, pois se Martinha vira o nariz para “pederastas”,
termo usado por ela mesma, a mãe, muito mais antiga e devota de Nossa Senhora,
não admite “pervertidos”. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Em sua cabeça, é uma dama de sociedade, pois até de bolsa de
mulher andou aparecendo, gordota dentro de caftãs trocados por notinhas no
jornal da portuguesa desavisada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Da turma do terço, a única coisa que conseguiu quando surgiu
foram narizes a balançar, feitos o da “Jeanie é um gênio”, e semblantes das
devotas a querer dizer:<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
“Lá vem o veado”.<o:p></o:p><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinE63f09H1hbt9QCqIjvIfAlmUbadMmC0Kq7iJvQ1km8JhLZMEEVY6LdNsipcYSij-_6xi2suutjKqVR1bqNZEq2-Isf6ZiSXKYRNNUlQgAPX5f69F7uCikzPJ6BxIfduHbtDfm17dxAI/s1600/o-melhor-colunista-social-do-rio.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinE63f09H1hbt9QCqIjvIfAlmUbadMmC0Kq7iJvQ1km8JhLZMEEVY6LdNsipcYSij-_6xi2suutjKqVR1bqNZEq2-Isf6ZiSXKYRNNUlQgAPX5f69F7uCikzPJ6BxIfduHbtDfm17dxAI/s400/o-melhor-colunista-social-do-rio.jpg" width="400" /></a></div>
<br /></div>
Marcio.Ghttp://www.blogger.com/profile/11597647022897515011noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5275022476516713737.post-48674721178794632912017-09-27T12:42:00.003-07:002020-01-26T10:05:39.271-08:00A ciclista portelense<u>TERÇA DE SOL DE MANHÃ, PRAIA DO ARPOADOR, EM FRENTE AO FASANO, ENQUANTO A LOFRETE, NA GLOBONEWS, DERRAMA PITANGAS DOCES AO AÉCIO.</u><br />
.<br />
<b>BH</b> para sua bicicleta Rudge no calçadão, cesta de vime com marias-sem-vergonha miúdas pendurada no guidon. Ela vem seguida por um ciclista espadaúdo, segurança que ganhou de presente do pai e, 12 anos se passaram, o velho até morreu, a proteção virou romance, sendo as tratativas trabalhistas assumidas pelo patriarca, agora a cargo da filha, religiosamente sanadas, sem atraso.<br />
Ocorre que <b>BH</b>, por agora, se encantou com um vendedor de água de coco, morador do Chapéu Mangueira, tendo ela já desfilado pela Portela.<br />
Skindô, skindô.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirWz9mKdDhMpby7zPTusrgcbVOP7H0tMz2BnPquQGXaIIrAfHKKh3VbwY03Ljs5o7zRMWfrpiZIkuJjAP9OfyQWmm758TQnDBTRlEYTKzB5WWVOZSOdLAfErKgb8v5lbxmMO1nu5eb3hg/s1600/o-colunista-mais-chic-do-rio.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirWz9mKdDhMpby7zPTusrgcbVOP7H0tMz2BnPquQGXaIIrAfHKKh3VbwY03Ljs5o7zRMWfrpiZIkuJjAP9OfyQWmm758TQnDBTRlEYTKzB5WWVOZSOdLAfErKgb8v5lbxmMO1nu5eb3hg/s400/o-colunista-mais-chic-do-rio.jpg" width="400" /></a></div>
<br />Marcio.Ghttp://www.blogger.com/profile/11597647022897515011noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5275022476516713737.post-66339944284143880102017-09-25T19:37:00.000-07:002020-01-26T10:05:39.422-08:00O Cheque<u>QUARTA-FEIRA À TARDE, ENQUANTO MB, NA GLOBO NEWS, PUNHA A PONTA DO MINDINHO NA BEIROLA DO NARIZ</u><br />
<br />
<b>N</b> desce do carro preto blindado, na porta do Antiquarius, acalorada, balançando suas pulseiras de ouro de tolo, herança da mãe, puxando a bolsa Chanel, esta legítima, como o cachorro dá linha a Maria na calçada da Atlântica. Cheirando a marijuana, que chega do Vidigal em seu amplo apartamento a qualquer hora do dia ou da noite. Ela fala - alto - com o ex-marido, <b>C</b>, ao Iphone. Quer "50 mil até amanhã de manhã" na conta para cobrir o cheque da joalheria. "A turca está me cobrando, a turca está me cobrando", justifica.<br />
<u><br /></u>
<u><br /></u>Marcio.Ghttp://www.blogger.com/profile/11597647022897515011noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5275022476516713737.post-53044593222210778972014-01-22T20:11:00.000-08:002020-01-26T10:05:39.337-08:00O 'colonista' social<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDNcqoxmWu4cqqxlu7heGr4ulyF8iBQI1ZAr6rC_R9LtzrkZnd6oRunqGjQcYAh0DU3NMeZUhhcE2Zr0qFhJUoorqO7VVB2saYAc-BvmNvVwgzOGZjTjHilLGydB0rt7J51zVCLH15Y94/s1600/RAINHA.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="285" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDNcqoxmWu4cqqxlu7heGr4ulyF8iBQI1ZAr6rC_R9LtzrkZnd6oRunqGjQcYAh0DU3NMeZUhhcE2Zr0qFhJUoorqO7VVB2saYAc-BvmNvVwgzOGZjTjHilLGydB0rt7J51zVCLH15Y94/s1600/RAINHA.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<o:p> </o:p>A vasta parede
espelhada da sala de estar da locomotiva de Copacabana era tudo que aquele
menino pálido, nascido no subúrbio carioca, adoraria ter para si. Igualzinha ao vestido da Marilúcia, amiga do primário, filha da vizinha enfermeira,
que, num dia poeirento de além Rebouças, ele viu no varal, pulou o muro e
afanou, na maior cara de pau, dando conta do <i>cleptomomento</i> só quando, trancado
no banheiro, viu sua imagem travestida de menina, 10 anos no máximo, refletida
no espelho mofado do armário de sobre o lavatório cheio de lodo.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
É assim desde que veio
ao mundo, pelo ventre daquela mulher sofrida e incompreendida. A inveja e a ganância o acompanham a partir do
berço, quer dizer, parece que nem berço teve. Nunca fora capaz de exercer a
conquista dos seus objetivos por seus próprios méritos. Atropelar o outro,
cobiçar o do outro... era assim que galgava postos e iludia amizades, mas
sempre com o Rivotril na mesa de cabeceira, ao lado da imagem oca do seu santo
protetor. Nunca fora ca(paz) de dormir.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Pequeno ainda, leu na
coluna da Nina Chavs, em "O Globo", sobre as <i>doidivanices</i> da herdeira de Copacabana, cheia de manias, cacoetes e soslaios, desconfiada a ponto de não ter
amigo sincero algum na mão para contar nos dedos. Resolveu que iria espreitá-la
perto do prédio: quem sabe, num relance de olhar, não pudesse chamar a atenção
de alguém que o ajudasse a chegar sabe-se lá onde...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Quarta-feira de
manhãzinha, fingindo-se a caminho do grupo escolar municipal, perto do horto à
porta de casa, meteu-se em um 474, dinheiro contado da passagem no bolso da cevada
calça jeans, e aportou no furdunço da Barata Ribeiro. Lera na Nina que seu alvo
descia para nadar “todos os dias, bem cedo”, e havia de protagonizar o encontro
que mudaria sua vida de menino pobre remelento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Quatro quartas-feiras
se passaram (e a mesma calça jeans), até que um dia, era sexta, esbarrou em uma morena esguia, camisa
de linho branca sobre o biquíni vermelho, chapéu de palha à mão, abas largas, à
esquina de Rodolfo Dantas, perto da farmácia de manipulação que, anos depois,
passou a frequentar para comprar a pomada de renovação da flora retal. Era ela!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Como nunca teve
dificuldade com as palavras, logo lançou mão de adjetivos para adular sua
incompreendida e carente presa, desfiando ali toda a vida dela, todas as lembranças, como um fã
desconhecido de muito tempo – pois uma de suas armas de guerra era estudar sobre seus alvos, e a memória sempre o ajudou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ávida por um mimo,
necessitada de bajuladores em grau 10, logo a herdeira apresentava para todo
mundo seu “melhor amigo”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
(continua...)<o:p></o:p></div>
Marcio.Ghttp://www.blogger.com/profile/11597647022897515011noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5275022476516713737.post-81622759076949872462012-12-17T11:11:00.000-08:002020-01-26T10:05:39.509-08:00A DONA DA CAMÉLIA - Parte final<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxHgGSvVsb4bMaWj7F_-bn3d_ZY7Uk0Je22L8an0lF3SdaAfzgdVPkTRBtZsneuLk8VgBpE-M6z3Nl6Do78oKFJenfnNpYEiRlmgwM4IJY8LZi9ZqL5u88DEmAbJdl5Af9-TNm2LO8Gf4/s1600/country.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="163" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxHgGSvVsb4bMaWj7F_-bn3d_ZY7Uk0Je22L8an0lF3SdaAfzgdVPkTRBtZsneuLk8VgBpE-M6z3Nl6Do78oKFJenfnNpYEiRlmgwM4IJY8LZi9ZqL5u88DEmAbJdl5Af9-TNm2LO8Gf4/s400/country.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Orlando nunca fora chegado a guardanapos na cabeça. Honesto,
querido por todos e filho único, herdou um império do pai, que, por
coincidência, também filho único e herdeiro (do Barão de Negromonte, seu bisavô), amontoou
riquezas alicerçadas na siderurgia e na construção civil, fortuna capaz de sustentar 10 gerações dos
Guimarães em altos patamares por um século ou mais sem trabalhar.</span><br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Ainda que não precisasse labutar, e fosse um pouco relapso
com horários - não dispensava uma partida de tênis todos os dias de manhã, no
Country -, Orlando era um patrão generoso e pragmático. E mantinha no
escritório, alto de uma torre na Paulista, seu melhor amigo Timóteo, o Tim,
filho da querida Tereza (a negra que o embalou em pergaminhos desde os cueiros),
como CEO de sua holding. Tim formou-se em Harvard, acarinhado financeira e
emocionalmente pelos Guimarães desde que nascera. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Galanteador e amante irrepreensível, a ponto de dar a uma de
suas mulheres filiais um apartamento na Rua 34, nas paragens da Broadway,
Orlando nunca fora ruim como marido. Admirava e honrava, na medida do possível,
a matriz Babinha com toda dedicação, material e afetivamente. Ele estranhou
quando, naquela manhã de quarta-feira, José, o animado faz-tudo do Country,
interrompeu suas sacadas, telefone celular em punho gritando urgência. Do outro
lado da linha, ela, nossa personagem principal, a dona da camélia, dizia
desejar encontrá-lo “ainda hoje”, tendo ouvido do Orlando um convite a aparecer
no clube. Foi definitiva. Precisava ser “hoje em São Paulo”, onde já estava
àquela hora. E completou, batendo o telefone: “a Babinha está te traindo”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A hipótese de traição não é aceita por homem algum. Até
Judas, o discípulo, sucumbiu à forca ao perceber ter sido traído por sua índole
má. Orlando, amante inveterado, jamais imaginara a possibilidade de Babinha
precisar buscar outra cama fora de casa. “Não, isso é mentira, só pode ser” -
pensava, atordoado, ao tempo em que dava o jogo de tênis por encerrado.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Ao andar de volta pra casa, na calçada interna da Vieira
Souto, manhã de sol acachapante, olhava para a direita, não via o mar, à
esquerda, tudo era branco, um misto de ira e remorso, um pouco de tudo, um
monte de coisa alguma. Culpava-se. Bem merecia ser traído, incontáveis eram
suas amantes. “Mas sou homem, eu posso” - aquiescia, machística e estupidamente.
Travava batalhas por bilhões de reais a cada dia no escritório, mas nenhuma
perda, de qualquer contrato, fisgara-lhe tão fundo o coração como a lança
atirada por telefone pela “melhor amiga” de sua mulher.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Nunca o elevador da portaria até o 10º andar demorara tanto
como naquela manhã. Sequer o Victor, porteiro desde antes do término da
edificação do prédio construído pelos Guimarães, pois fora ajudante de pedreiro
e cativara a atenção do patrão, teve seu sorriso ao abrir a porta de blindex,
pintada cor-de-mel pelo filme de proteção. Olhava cada detalhe de capricho do
apartamento, do hall de entrada ao corredor de acesso à ala íntima, e ao mesmo
tempo odiava e admirava a mulher exuberante e alinhada que a vida lhe dera de
presente. Precisava ter calma, aquela víbora que plantara há pouco a
adversidade em seu coração só poderia estar mentindo.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Apaixonava-se ainda mais por Babinha, todos os dias, quando
se sentava à mesa para o café da manhã. Tudo deixava transparecer grande e
caprichado amor. Flores frescas dentro de copinhos e garrafas minúsculas,
toalhas da Ilha da Madeira, como um café da manhã de lugares marcados em casa
de uma grande dama da sociedade, brisa suave a romper a janela coberta de branco
voal, pães quentinhos feitos em casa e tanto afeto, e lhe era custoso acreditar
que aquela rainha com quem dividia a vida fosse a traidora delatada pela “melhor
amiga” e confidente. E Babinha estava particularmente bonita aquele dia, a
bordo de um caftan turquesa da recém-lançada coleção de roupas íntimas do
Jerson Karl, o maior costureiro do Brasil de todos os tempos, desde antes e
depois da edição da Bíblia.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Esforçava-se por não deixar transparecer para a mulher seu
misto de ira, culpa e inconformidade, pois antes de tomar qualquer providência,
fosse qual fosse a decisão, o bom senso lhe dizia que precisava se alicerçar em
fatos reais, comprováveis. E se aquela “cobra” estivesse mentindo? –
perguntava-se, desacreditando a traição da “melhor amiga”, da qual a Babinha
era refém. Jamais faria algo parecido com o Tim, seu “irmão” e companheiro de
todas as horas. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">No Santos Dumont, para o voo de quase todos o dias, nem teve
cabeça para conversar com Rocha, o piloto do seu Citation Ten, um dos 10
jatinhos da holding Guimarães, todos fabricados pela Cessna, avaliado em 20
milhões de dólares. Sequer abrira a hoje finada "Gazeta Mercantil" daquela manhã para inteirar-se
dos negócios.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Ao chegar ao alto de sua torre na Paulista, foi num abrir e
fechar de portas, como um lobo de cauda eriçada a contrapor os tufos de carrapicho à
beira do precipício, sem se ater a alguém ou ao cenário, até se deparar com
ela, a delatora, sentada na sala de espera a bordo de um tailleur Chanel vintage
verde-água, longas e torneadas panturrilhas descobertas, mais bronzeadas do que
nunca. Percebia-se no ar que ela programara o passo a passo daquele encontro
durante toda vida, como uma diretora teatral de musicais nas paragens da Time
Square. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Mas como nem a traição que o vitimava lhe tirava o instinto
de galanteador, Orlando sentiu no ar a sensualidade do cheiro de Arpège, mesmo
perfume que exalava da Lily de Carvalho desde sempre, com o qual a “melhor amiga”
de sua mulher banhara as saboneteiras. Ela foi rápida no gatilho, como faz a loba em pele de cordeira ao mirar a suculenta presa: levantou-se, apertou o
botão do gravador com o dedo indicador, e com o polegar equilibrou o minúsculo aparelho
na altura do ouvido do Orlando. Lá estava a voz da Babinha, melosa, luxuriante,
“puta!”, ele exclamou, contando para a “melhor amiga” as histórias de suas tardes
de sexo animal com a Atanael, o professor de tênis do Country. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Um ano depois, a coluna do Turco anunciava o segundo
casamento de Orlando Guimarães. Agora, com a dona da camélia dos ouvidos mais matreiros
e ambiciosos da chamada alta sociedade carioca. </span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-small;">Foto: Country Club</span></div>
Marcio.Ghttp://www.blogger.com/profile/11597647022897515011noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5275022476516713737.post-83784670830434825472012-11-03T16:17:00.002-07:002020-01-26T10:05:39.552-08:00A DONA DA CAMÉLIA - Parte 2<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2vqcMraRHjTKt8cCKI4PPrlj14SAbYsivuwtyCIXkaioywi0l7mL0cgrHSEwOJrvsKN9_hRmT_8qDwRQ7U3aNkHPLnOY3F1rCBvRGIv-QIiI6C8LbO7mzMkClXaSzojG2SwjDNXz7nFA/s1600/pollock.key.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="287" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2vqcMraRHjTKt8cCKI4PPrlj14SAbYsivuwtyCIXkaioywi0l7mL0cgrHSEwOJrvsKN9_hRmT_8qDwRQ7U3aNkHPLnOY3F1rCBvRGIv-QIiI6C8LbO7mzMkClXaSzojG2SwjDNXz7nFA/s400/pollock.key.jpg" width="400" /></a></div>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Aquilo não era sala, mas um verdadeiro alvoroço de bom gosto
na cara da mesmice habitual das casas dos ricos da época. Havia toques de
categoria em todos os detalhes, e tudo, absolutamente tudo, tendo brotado do
talento de Bárbara, a dona do pedaço. Babinha trazia consigo a mesma segurança
da mãe, família quatrocentona mineira, de que não é original terceirizar mão de
obra para decorar a casa, tampouco ornamentar a mesa em dia de festa. Ela mesma
fazia, e bastava pôr a mão, para tudo embelezar.</span><br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Toda vez que pisava aquele solo, desejava para si cada
centímetro do cenário, os espelhos com molduras simples, coloridas, mas chiques
porque desalinhadas em uma imprevisível diversidade de estilos, o par de cômodas
Luis XIV, que guardava a enorme porta de entrada do salão, os fios de pérolas
brancas e negras serpenteados no majestoso lustre de cristal, o magnífico óleo
de Pollock, solitário sobre a parede espelhada. Só o Brecheret do canto da
janela não a apetecia. Não entendia por que Babinha passara quase noite inteira
a ouvir o martelar do Ernani III, só para levar pra casa “aquele horror de
cubismo”, não sem antes obrigar Orlando a assinar um cheque de milhares de
dólares.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Orlando era o marido que qualquer mulher pediria a Deus. Ela
sempre pediu, mas se Deus, até aquele dia, não a ouvira, estava decidida a conseguir
por caminhos indignos. Queria não somente a sala, ou uma igual, mas quem proporcionava todo aquele mundo de
luxo e sofisticação. E precisava resolver sua vida o quanto antes, planejava
ainda ter filhos, já tinha 35 anos. Achava que Babinha, no fundo, no fundo, não
merecia aquele príncipe. A inveja é mesmo assim, ávida por preterir o outro e
preferir a si.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O copeiro Manoel adentrou apressado o living, seguido por
Vida e Vitamina, os Yorks da casa. Veio avisar que madame logo desceria para
recebê-la. Era amiga há décadas da Bárbara, mas jamais lhe fora concedida a
intimidade de entrar no quarto do casal quando quisesse, mesmo que Orlando
estivesse em SP, como quase sempre, comandando os negócios. Manoel
pergunta se a visita quer água, ou suco, ou o quê. Ela, que sempre quis alguma
coisa, mesmo hoje, velha, viúva e rica, como não quereria algo naquela manhã de
verão em 1975, enquanto seu esmaecido apartamento da Barata Ribeiro cheirava a
mofo? Aceitou bombons.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Cinco anos se passaram, desde a tomada da decisão de roubar
o marido da melhor amiga. “Hoje é o dia”, maquinava, mãos suadas de quem se
envergonha das próprias atitudes, enquanto o chocolate prometido parecia atrasado.
</span></div>
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<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Olhava-se no espelho e imaginava, apavorada, Bárbara
descobrindo o minúsculo microfone camuflado na lapela, dentro da enorme camélia
que ela mesma, Babinha, lhe dera de presente. Apertou o botão do gravador quando a dona da
casa, mais bonita, chique e charmosa do que nunca, apareceu abrindo com força a
enorme porta de correr que dividia a parte íntima do salão de recepções.
Recém-chegada da milésima, talvez, viagem a Paris, Bárbara trazia para a amiga
uma sacola Vuitton. </span></div>
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<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Enquanto abria o presente, oferecido por quem seria
apunhalada no minuto seguinte, louca por um mimo, como sempre, seus pensamentos
eram tragados por um misto de perplexidade, satisfação e remorso. Sim, era má,
astuta, mas guardava consigo um pouco de misericórdia, herança da avó, católica
fervorosa.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Tanto fez que trouxe o Atanael à lembrança da Bárbara,
durante a conversa. Desejava que a amiga contasse detalhes da história de amor
clandestina vivida com o professor de tênis do clube, gagalau espadaúdo com
quem Babinha mantinha um romance secreto. Tão secreto que só ela, a melhor
amiga, sabia. Ela e, agora, a camélia.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Babinha e Atanael se conheceram quando ela fazia dois anos
de casada. Não que não amasse o marido, mas as constantes idas dele a São Paulo
a deixavam vulnerável. E era justamente esta história que a camélia da outra
estava ávida por ouvir. Do início ao fim.</span></div>
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<br /></div>
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<span style="font-size: x-small;">Ilustração: pintura de Pollock</span></div>
Marcio.Ghttp://www.blogger.com/profile/11597647022897515011noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5275022476516713737.post-65320562992086832302012-11-01T07:31:00.000-07:002020-01-26T10:05:39.379-08:00A DONA DA CAMÉLIA - Parte 1<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXoYsNS1KclwTm9FLiD5Hl018UMVnJiMEUQrpj7R8bYOvSpQVEv-p7dfWOIEFYLxNZ1aDptn3ATYVquAlHUkFZDO97hlLzlT6wD0t0ilF1sq5VNFtoSAGynC9bs25sjv6VGoZkozt-q8I/s1600/antonio+veronese4.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXoYsNS1KclwTm9FLiD5Hl018UMVnJiMEUQrpj7R8bYOvSpQVEv-p7dfWOIEFYLxNZ1aDptn3ATYVquAlHUkFZDO97hlLzlT6wD0t0ilF1sq5VNFtoSAGynC9bs25sjv6VGoZkozt-q8I/s400/antonio+veronese4.jpg" width="300" /></a></div>
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<span style="font-family: "tahoma"; font-size: 14pt;"><br /></span>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><i><span style="font-size: large;">"O indício mais seguro de se ter nascido com grandes
qualidades é ter nascido sem inveja".</span> (</i></span><span style="font-size: x-small;">François La Rochefoucauld)</span></div>
<br />
<span style="font-family: "tahoma"; font-size: 14pt;">...</span><br />
<span style="font-family: "tahoma"; font-size: 14pt;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Vive</span><span style="font-family: "tahoma";">
</span><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">atordoada</span><span style="font-family: "tahoma";"> por um sentimento que lhe corrói a alma, feito britadeira que machuca o
asfalto. Tem de tudo, mora de frente para o mar, apartamento
no qual caberia o Maracanã velho de guerra no meio do salão. Dorme em lençóis
da descendência da dona Maricy, sai na lista telefônica da Lourdes, frequenta o Country ali
pertinho, é chamada para todas as festas e desfiles de moda. Mas a inveja lhe
come os miolos mesmo agora, quando a geladeira está repleta de garrafas de champanhe Cristal loucas para explodir.</span></div>
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<br /></div>
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<span style="font-family: "tahoma";">Sempre fora assim. Menina cheirando a talco que mãe emplastrava na pele para conter brotoejas, foi capaz de envenenar o cachorro da melhor amiga do
primário, vizinha na periferia de Minas, só porque o seu era vira-lata</span><span style="font-family: "tahoma";">, e o sedado, um poodle. O bicho não morreu, por obra
e graça do veterinário doutor Malaquias, que não cobrava consulta, amava mais
os bichanos que a si.</span></div>
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<br /></div>
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<span style="font-family: "tahoma";">Outro fato ao qual o hipocampo de sua cinzenta jamais conseguiu dar ordem de despejo é o do dia
em que, Zippo lascado do pai à mão, ateou fogo no vestido de debutante da “melhor
amiga”, esta com aspas, só porque era novo, sendo que o seu já visitara outros
três bailes iguais, adornando ora uma prima, ora a filha da Bá, a negra feliz que ajudava criar os pequenos da família. Era o mesmo vestido, a mesma renda
adamascada. Só as fitas acetinadas das mangas e decote iam sendo trocadas, conforme pedisse a ocasião. Para tanto, eram anotadas no caderno do seu Adalmir, armarinho de esquina nas paragens alterosas. <o:p></o:p></span></div>
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<br /></div>
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<span style="font-family: "tahoma";">Ao chegar
ao Rio de Janeiro, ansiando por ganhar a vida e determinada a sair na coluna do
Ibrahim, logo conheceu a melhor amiga da idade adulta. É daquelas que precisam de
uma “melhor amiga” em todas as fases da vida, e chamam de “querido” qualquer ser
com o que a oferecer, além de degraus a roubar. Colega do Santo Inácio, filha de
família tradicional carioca, Bárbara era a chave da qual precisava para abrir as
portas do mundo encantado do Country Club, o de Ipanema, porque há outros menos
votados mundo afora. </span><br />
<span style="font-family: "tahoma";"><br /></span>
<span style="font-family: "tahoma";">Com Bárbara, logo apelidada Babinha, conheceu a serra e o Quitandinha, Babinha também a levava aos desfiles da Canadá. Na casa da Bárbara viu, pela primeira vez, "talheres de ouro” na noite de Natal. Jamais ouvira falar em vermeil, a prata
dourada, e pensava também que Limoges fosse apenas a cidade francesa onde nascera Renoir - desconhecia a grife da porcelana mais famosa dos ricos pós século
XIX.<o:p></o:p></span></div>
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<br /></div>
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<span style="font-family: "tahoma";">Quando
Bárbara voltou de Paris com a mãe e a notícia de que havia conhecido Orlando Guimarães,
da abastada família paulistana, por quem estava apaixonada e com quem iria se
casar, internamente ela murchou como rosa há dias sem água na jarra do
hall do elevador. A ponto de a amiga perguntar o que havia acontecido, tendo devolvido um “nada, não” com o sorriso sem graça de canto de boca, próprio de
quem segue a vida querendo pra si os dias de glória do outro, neste caso, da
outra.<o:p></o:p></span></div>
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<br /></div>
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<span style="font-family: "tahoma";">O namoro,
noivado e casamento de Bárbara e Orlando foram o “potin da saison”, como
diziam os colunistas sociais. Belos, ricos, bem nascidos, bronzeados, legítimos
representantes da jeunesse dorée, ela da cesta de "cocadinhas" do Turco, o casal
sempre entremeava, em fotos, as notícias do Ibraim, do Jacinto de Thormes e da
recém-estreada d'O Globo, Nina Chavs, que tanto viria causar boas sensações na grã-finesse carioca décadas à frente. <o:p></o:p></span></div>
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<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "tahoma";">Enquanto
Bárbara e Orlando, já adultos e recém-casados, eram a sensação do eixo
Country-Morumbi-Petrópolis, ela prosseguia sua vida insípida de esteticista de
um salão de Copacabana, bem relacionada, sim, mas contando os tostões para o dia
seguinte, sem telefone em casa, a usar o orelhão.<o:p></o:p></span></div>
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<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "tahoma";">Cansada de
ser coadjuvante, na manhã chuvosa daquele outono de 1970, abriu a janela, ouviu
a zoeira da Barata Ribeiro, e prometeu-se ganhar o Orlando de presente de Natal. <o:p></o:p></span></div>
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<br /></div>
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<span style="font-family: "tahoma";">A eterna felicidade
da Babinha que já se apressasse a contar seus dias.<span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span><br />
<span style="font-family: "tahoma"; font-size: 14pt;"><br /></span>
<span style="font-family: "tahoma";">(<i>No próximo capítulo: e a camélia falava...</i>) </span><br />
<span style="font-family: "tahoma"; font-size: 14pt;"><br /></span>
<span style="font-family: "tahoma"; font-size: x-small;">(Ilustração: pintura de Antônio Veronese)</span></div>
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Marcio.Ghttp://www.blogger.com/profile/11597647022897515011noreply@blogger.com0